Por que a tecnologia é tão importante para a humanização do atendimento da saúde pública?
Antonio Pereira (Tom Zé)
Superintendente do Hospital das Clínicas
Estou há mais de uma década atuando na saúde pública e sempre que me perguntam no que eu acredito, a resposta é: no uso da tecnologia para eficácia no atendimento e assistência de qualidade, focando na humanização – e é por esse motivo, que me propus a responder o título deste artigo.
Há quem ainda tenha uma ideia retrógrada que tecnologia e humanização são opostas, mas é justamente o contrário. A tecnologia é uma ferramenta que encurta distâncias, auxilia em diagnósticos e otimiza o tempo de profissionais e pacientes, possibilitando um olhar mais atento e uma escuta assertiva.
A tecnologia é facilitadora da humanização, mas é preciso ter em mente que a eficiência e qualidade no atendimento fazem parte desta conduta atenta que prioriza o paciente. É nisso que acreditamos, principalmente nos casos de alta complexidade.
No meu artigo anterior no Linkedin, sobre a Saúde Digital, apresentei dois estudos: um deles calculou que profissionais da saúde perdem mais da metade do dia em tarefas manuais, e o outro mostrou que o prejuízo aos pesquisadores foi significativo.
Afinal, em projetos reais, como a tecnologia e a humanização andam lado a lado? São inúmeras as iniciativas em que isso é possível na área da saúde – apresentarei algumas excelentes iniciativas do o Instituto de Medicina Física e de Reabilitação (IMRea) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP).
Humanização e tecnologia na prática
Com caráter multiprofissional e interdisciplinar, o IMRea é focado na medicina da reabilitação – um processo individual para cada paciente. A medicina física e reabilitação é essencial para muitas doenças crônicas, segundo o estudo epidemiológico em nível global, da Global Burden Disease (GBD).
As iniciativas tecnológicas puderam também aprimorar as técnicas de terapia e diagnóstico. “Entendendo se a lesão é relacionada ao sistema nervoso, ou ao locomotor, nos permite atuar de forma global”, aponta a professora da Faculdade de Medicina e minha colega, Linamara Rizzo Batistella, que também é vice-presidente do Conselho Diretor do IMRea – em reportagem do jornal da USP.
Desta forma, o tratamento é mais eficiente e humanizado, já que é pensado de acordo com o diagnóstico completo. Não seria apenas tratar determinada sequela, mas entender como aquela limitação atua no paciente e como fazer com o que o organismo dele a supere. O tratamento atua direto no problema, evitando outras intervenções e sofrimentos desnecessários.
“Mapeamento cerebral por estimulação magnética, ressonância magnética funcional. Todas as tecnologias diagnósticas nos ajudaram a entender melhor como funciona o cérebro da pessoa com incapacidade”, explica Linamara.
Além disso, desde o fim do ano passado, o IMRea ficou responsável pelo monitoramento de pacientes em recuperação da Covid-19, voltado principalmente para uma das principais possíveis sequelas: AVC (Acidente Vascular Cerebral). E como este acompanhamento é feito? Por meio de sensores inteligentes.
Com eles, é possível monitorar, à distância, importantes funções do corpo, como oxigenação do sangue, batimentos cardíacos, pressão arterial e sono dos pacientes. Desta forma, além da análise de dados e resultados deste acompanhamento, inicialmente realizado com 80 pacientes, a prática pode ser fundamental para evitar a ida ao hospital frequentemente e uma possível reinfecção da doença.
A qualidade e eficácia no atendimento do HCFMUSP demonstram cada dia mais como o uso da tecnologia faz a diferença – e é nisso que seguimos acreditando. Médicos e pacientes têm trabalhado pela cura e reabilitação, juntos, com tratamentos cada vez mais inovadores.
E não se engane: o Sistema Único de Saúde – SUS pode fazer parte da nova era da saúde. Reconheço que há diversos desafios, mas é necessário o investimento em iniciativas que aceleram cada vez mais a busca de qualidade e excelência do sistema!